Como forma de comemoração dos 45 anos do 25 de abril de 1974, as turmas do 9.º ano realizaram entrevistas a familiar/vizinhos com o título “Conta-me como foi antes do 25 de abril na Ilha Terceira” .
Este artigo demonstra o trabalho realizado.
Antes do 25 de Abril
Entrevistada:
Iria
Fátima Corvelo Melo
Local
onde vivia: São Mateus
Idade:
69
Como
se vivia na Terceira?
Habitação - Nessa época as casas
ainda eram muito primitivas, sem eletricidade, sem água potável, sem aparelhos
para nos ajudar nas tarefas domésticas, etc…
Como não havia
eletricidade nessa altura a minha entrevistada contou-me que usavam óleo de
baleia com uma torcida de pano para fazer luz e além disso também já existiam
os candeeiros de luz de petróleo. Nessa altura as casas ainda não tinham
canalização então tinham de ir buscar água aos chafarizes; essa água, às vezes,
servia para lavar a roupa, enchiam o tanque de pedra com água e sabão. A
senhora Iria acrescentou que para lavar a roupa branca usavam sabão (azul e
branco) e punham na relva, no dia seguinte passavam por água limpa e punham ao
sol para secar.
Os wc, antigamente as
casas de banho eram no jardim dentro de um barracão de madeira, dentro desse
barracão tinha um penico de barro com duas asas e quando chegava a noite as
pessoas usavam um bacio que tinham em casa para não terem que sair de casa que
no dia seguinte despejavam tudo para a estrumeira.
Alimentação-Antigamente a alimentação
era feita há base do que cultivam, como couves, batata entre outros. As horas
de comer eram diferentes das nossas por exemplo não tinham pequeno-almoço, o
almoço era às 9 horas (a minha entrevistada comia muitas vezes sopas de leite
com pão de milho), às 2 ou 3 horas era o jantar (aí comiam sopa de couves,
feijão e batata) e antes de ir dormir tomavam uma caneca de leite com uma fatia
de pão.
Muitos dos produtos que
comiam eram cultivados no seu próprio quintal (como as couves, as batatas, os
nabos…), quando não havia iam comprar. A senhora Iria não se lembra de nenhum
preço dos produtos, pois como ela era de uma família de “pobres” eles usavam o
“retalhe” (ela dava uma certa quantidade de dinheiro ao senhor da loja e eles
depois davam a quantidade a que correspondia esse dinheiro para comprar o
produto). No inverno era onde as pessoas passavam mais dificuldades para
arranjar alimentos, pois o inverno é sempre mais difícil para os produtos
crescerem.
Moda-A moda era muito
rudimentar, as pessoas andavam quase sempre com a mesma roupa. Era costume as
mulheres usarem um vestido de fita com uns sapatos de lona e os homens com uns
camiseiros e umas calças de tecido para calçar uns sapatos de lona, como não
havia roupa a vender as pessoas faziam a sua própria roupa.
Costumes-Na altura as pessoas iam
para as festas e para as touradas para poder namorar, juntavam-se e
conheciam-se. Na altura as mulheres ficavam na janela e os homens no caminho.
As pessoas saiam de casa dos pais quando casavam, a nossa entrevistada no caso
saiu de casa dos pais com 23 anos.
No casamento, as coisas
de antigamente ainda se mantêm hoje em dia, vão há missa depois fazem a boda e
depois da boda lua-de-mel.
Saúde-As pessoas não iam muito
ao hospital, pois era muito difícil de apanhar um doutor porque tinham que
pagar e muitas pessoas não tinham dinheiro para pagar. O hospital não era muito
longe, visto que ela morava em são Mateus e o hospital era ao pé da Guarita. A
nossa entrevistada disse que nunca tinha ouvido alguém que teve uma morte
prematura, pois ela teve uma filha que nasceu no hospital mas que esteve quase
a nascer em casa.
Ensino-O ensino gratuito só ia ate ao 4º ano, a partir daí só
as famílias mais ricas é que continuavam a estudar. A nossa entrevistada no 1º
ano apanhou uma professora muito má que batia com uma régua de madeira na palma
dos alunos e ela também referiu que a professora tinha uma cana de pesca para
poder chegar aos alunos sem se levantar. A senhora Iria deslocava-se a pé pois
naquela altura eles não tinham muito dinheiro. O material escolar no 1º ano era
uma cartilha, já no 2º ano até ao 4º o material era diferente, eles usavam
cadernos, lápis, caneta bico de pena e na mesa tinha um buraco para por a tinta
da caneta (tinteiro).
Tempos Livres- A nossa entrevistada não
tinha muitos tempos livres, pois era a filha mais velha e ficava a tomar conta
dos irmãos. Ao sábado e ao domingo (dias de descanso) quando já tinha uns 15
anos é que começou a sair para ir para as festas mas era muito raro. Nas
sanjoaninas ela passava-as dentro de um carro de bois.
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